Gabriela Ely - Psicanalista
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terça-feira, 11 de junho de 2019

Não recuar diante da loucura*


            É o que nos alerta Lacan (1977). Apesar de Freud sugerir a impossibilidade de psicanalisar o psicótico, ele faz um minucioso estudo da escrita do presidente Schreber, e lança as bases para se pensar no trabalho com as loucuras.  Lacan vai mais longe e desde o inicio de seu ensino a psicose está em questão.
            Seguindo a orientação lacaniana me proponho a refletir sobre o que concerne a loucura nossa vivencia atual. O que percebo, a luz da psicanálise é que em nossa sociedade cada vez mais há o predomínio de movimentos segregatórios, onde o que prevalece é a intolerância ao outro. Não para menos, por essa via, a respeito aos ditos “loucos” é preciso mantê-los separados, a uma distancia segura e confortável.
            A via manicomial institui o universal, ao todos iguais, loucos e segregados. Cabe assim, medidas de intervenção generalistas que tem por efeito o silenciamento do sujeito. Esta via acredita que só o medicamento é suficiente e compreende a loucura pela via biológica, ou seja, pela determinação biológica. Considero o retorno aos manicômios um retrocesso na vertente do social, politico e clinico no campo denominado de saúde mental, pois já se havia progredido substancialmente na forma de lidar com a subjetividade e a loucura.
            A psicanalise convoca a que se possa subverter este movimento. Que toma valor especialmente pela acolhida do singular. Se para Lacan em seu último ensino todo mundo é louco, a questão está mais na loucura de cada sujeito, há maneiras de ser louco. Nesse caso a psicanalise está na contra corrente, pois promove a fala desde a dignidade da escuta, podendo advir um sujeito ali onde havia apenas meros corpos.
            Apoio o sistema ainda vigente de acesso universal a saúde, com dispositivos de assistência plurais que ainda sim possam acolher o singular de casa loucura. E, repudio os movimentos atuais de um governo autoritário que se afastam da democracia.


LACAN, J. Abertura da sessão clínica (1977). Recuperado 08/06/2018 http://www.traco-freudiano.org/tra-lacan/abertura-secao-clinica/abertura-clinica.pdf


*Texto produzido a partir da pergunta sobre a opinião da Psicanalista sobre o retorno aos manicomios.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Teatro do amor


No espetáculo do amor, hoje os atores atuam sem envolvimento. O lema é “Pegue mas não se apegue”. Esse lema cabia muito bem aos homens. Porém, as mulheres, que eram as que mais se ocupavam das questões emocionais têm buscado refugio em agir como os homens. Os encontros femininos que giravam em torno de queixas amorosas ou o avesso, a exaltação amorosa, se tornaram encontros para contabilizar o número de parceiros que se interessam por elas, e ainda a ridicularização daqueles que tem intenções de ter um relacionamento mais sério. A justificativa está em: “Assim que os homens fazem”. Outro dia uma amiga dizia: as coisas estão do avesso, as mulheres em personagens masculinos.
O caráter vingativo se apresenta e as mulheres coadjuvantes se tornam protagonistas. A cena está invertida, mas a narrativa da peça é a mesma: defesa frente ao amor. Os homens, por não serem tão amigos da falta, são os que usualmente mais se defendem. Afinal de contas, amar é dar o que não se tem, é dar sua falta. Estar na posição de faltante, daquele que tem saudades e deseja alguém, e que nem sempre será correspondido, não é tarefa fácil. No teatro do amor, não há garantias. Porém se um se acovarda frente ao amor, não sabe nem das dores, nem das delicias do amor.
Onde está o amor? As mulheres eram aquelas que engenhosamente estremeciam as defesas masculinas, e agora José? Verificamos que as mulheres também estão se defendendo. Será que caberá aos homens estremecer as defesas femininas? De todo modo, os seres humanos são seres relacionais, e o acaso pode sempre surpreender, é aí que se encontra o amor, quando o acaso surpreende, algo do amor surge e a defesa sai de cena.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017


                                                         
                                                  Guerra dos sexos 


            Muito se fala sobre o que é ser uma mulher: recatada e do lar, puta ou santa, louca, etc. Há uma indefinição do ser da mulher, uma problemática em cernir o que concerne ao feminino.
            E por isso tanto se fala, pelo infinito que o feminino nos leva, e assim, se “infinitizam” os comentários sobre o novo clipe de Anita. A feminista pira, é a ira frente ao que considera ser a desvalorização da mulher. Há aqueles que simpatizaram com a artista por ela mostrar a realidade social brasileira. Caricatura que se encaixou bem na lógica de mercado. Bem ou mal, falam de Anita, ela causa, causa a falação.
            Mas, para além do feminino que tanto se fala. O que falar do masculino? O que é ser um homem nos dias de hoje?

            Me parece que os signos de virilidade já não dão conta de responder essa pergunta. Alguns, via violência, tentam desesperadamente resgatar a certeza do que é ser um homem, em vão. Outros partem para o fazer-se ver, mostrando corpos definidos e atraentes que costumávamos verificar do lado feminino, se é que há algum. Seja como for, ser homem, mulher ou ... é sempre uma construção. Quem é você?

terça-feira, 4 de abril de 2017

Não se molhe!


Enquanto tomo um café e olho aleatoriamente as redes sociais me fixo a um aviso do facebook: “Não se molhe! Está chovendo hoje”. De algum modo este recado me soa como um alarme e me questiono por que se molhar poderia ser perigoso.
Há algo mais do acaso que levar um banho de chuva? Ah! Esqueci o guarda chuva e me molhei vindo para cá e ainda resvalei e cai, mas em seguida uma pessoa encantadora me ajuda a levantar e tomamos um café. Está aí justamente o contingencial da vida, que nos surpreende e que torna a vida menos previsível e talvez mais feliz. 
Que felicidade é essa? Com certeza não é a felicidade do ideal, aquela do para todos, que visa ao bem, ou seja: “Não se molhe” Cuidado com o que não está dentro de do plano do ser feliz, “mantenha-se seco”. Essa felicidade falha a todo momento, é nessa falha que alguns podem, se não forem tão cautelosos, encontrar uma felicidade distinta, aquela do acaso.

Nesse caso, vamos tomar um banho de chuva? 

quarta-feira, 8 de março de 2017

Uma mulher é..

    Especialmente nesse dia 8 em que comemorasse o dia internacional da mulher escutamos de todos os lados que a mulher é isso, a mulher é aquilo. Por que se fala de tudo sobre a mulher?
    Não há um significante que sature o que é uma mulher. Por isso se fala tudo sobre ela, de deusa a bruxa!
   Ao não ter definição que poderia localizar a mulher em uma classe, ela se encontra só. Se não há A mulher, está se encontra no uma a uma, o que existe é uma mulher.
    O feminino é sempre enigmático, para homens e mulheres. Daí surge: o que é a mulher? Ela pode ser tudo, menos "toda"! Inclusive pode ser Outra para ela mesma.
 

segunda-feira, 6 de março de 2017

Êxito e Sucesso


Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?
- Fernando Pessoa  
Para o Êx-cito algo está a priori, o que advêm ao êxito é a escolha, e isso se verifica em “Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for”. O que está antes é a terra vazia, no êxito, temos a escolha pelo palácio. E se é um palácio não é um castelo. Com isso podemos pensar que uma escolha implica uma renuncia, e talvez seja essa a maior dificuldade em fazer escolhas, apesar de muitas vezes parecer simples.

       Outra questão importante é: e quando o palácio já está construído? Alguns dirão: sucesso. Temos a parte do sucesso como “excesso” que coloca o sujeito em uma posição distinta dos demais, institui uma exceção, pois, se tem sucesso em algo sempre particular, o que implica assumir algo próprio e bancar a diferença o que nem sempre é tarefa fácil, ser igual implica certa comodidade. Temos também o sucesso, como “cessar”, quando se atinge algo cessa a busca, e talvez o grande barato esteja em buscar. É importante que se construam novos palácios, ou quem sabe o castelo dessa vez. Há sempre um quê de insatisfação no desejo, ainda bem! Assim seguimos desejando, escolhendo e quiçá tendo sucesso. 

sábado, 4 de fevereiro de 2017

A educação e a escola na atualidade


Como pensar a educação em uma sociedade em que a autoridade está fora de moda, inclusive a autoridade dos professores? Percebemos que nas escolas já não se trata mais de obedecer ou respeitar os professores, ou sequer de creditá-los um suposto saber. O saber encontra-se no bolso, sr. Google está sempre a mão.
Pais e professores já não atuam em parceria de trabalho na educação dos jovens, muitas vezes os pais são aliados dos filhos contra os professores. Os professores assim já não são respeitados em suas responsabilidades,  são desqualificados e se tornam muitas vezes impotentes. 
Ao apoiarem os filhos sem restrições os pais não possibilitam que seus filhos se ajustem a realidade, se desenvolvam e possa criar invenções frente a realidade que encontram, se trata mais de que a realidade se adéqüe a criança.
Para os professores é preciso invenção, é importante apoiarem uns aos outros em sua causa, a da paixão pelo conhecimento para despertar nos alunos desejo de saber. Para a sociedade é importante valorizar a educação, os professores, as escolas. A escola tem papel essencial na vida dos sujeitos, é a cultura que permite que a criança aprenda muito mais do que o relacionado ao intelectual, há uma aprendizagem além, aquela da vida, aprender a viver!