É o que nos alerta Lacan (1977). Apesar
de Freud sugerir a impossibilidade de psicanalisar o psicótico, ele faz um
minucioso estudo da escrita do presidente Schreber, e lança as bases para se
pensar no trabalho com as loucuras. Lacan
vai mais longe e desde o inicio de seu ensino a psicose está em questão.
Seguindo a orientação lacaniana me
proponho a refletir sobre o que concerne a loucura nossa vivencia atual. O que
percebo, a luz da psicanálise é que em nossa sociedade cada vez mais há o predomínio
de movimentos segregatórios, onde o que prevalece é a intolerância ao outro. Não
para menos, por essa via, a respeito aos ditos “loucos” é preciso mantê-los separados,
a uma distancia segura e confortável.
A via manicomial institui o
universal, ao todos iguais, loucos e segregados. Cabe assim, medidas de intervenção
generalistas que tem por efeito o silenciamento do sujeito. Esta via acredita
que só o medicamento é suficiente e compreende a loucura pela via biológica, ou
seja, pela determinação biológica. Considero o retorno aos manicômios um
retrocesso na vertente do social, politico e clinico no campo denominado de saúde
mental, pois já se havia progredido substancialmente na forma de lidar com a
subjetividade e a loucura.
A psicanalise convoca a que se possa
subverter este movimento. Que toma valor especialmente pela acolhida do
singular. Se para Lacan em seu último ensino todo mundo é louco, a questão está
mais na loucura de cada sujeito, há maneiras de ser louco. Nesse caso a
psicanalise está na contra corrente, pois promove a fala desde a dignidade da
escuta, podendo advir um sujeito ali onde havia apenas meros corpos.
Apoio o sistema ainda vigente de acesso
universal a saúde, com dispositivos de assistência plurais que ainda sim possam
acolher o singular de casa loucura. E, repudio os movimentos atuais de um
governo autoritário que se afastam da democracia.
LACAN,
J. Abertura da sessão clínica (1977). Recuperado 08/06/2018 http://www.traco-freudiano.org/tra-lacan/abertura-secao-clinica/abertura-clinica.pdf
*Texto produzido a partir da pergunta sobre a opinião da Psicanalista sobre o retorno aos manicomios.